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...Passo e bailo no nada, no nada floresço....

quarta-feira, 20 de março de 2019

A última visão (Vanessa Ferreira)



Não vê que morro!
Devo partir e se evanescer,
Essa espada me dói na alma
Fere-me a honra,
Pálida navalha!

Voas pombas para longe de mim
Levas seus véus translúcidos,
Tira teu corpo o afago do meu,                                                                       
sentir o sabor de sua saliva gélida                                                                
que me derrete por dentro,

Vens para tirar-me a única coisa que acreditei,
Vê o ódio que vibrava em mim
Derreteu em seu toque,
Agora odeio o amor que me consome;
Não há mas tempo pomba,
Antes que morra some!
(...)
De lado vejo o rosto choroso
A ternura que possuiria se as forças me restassem,
Não a teria pela lascívia,
Mas profundamente
Se pudesse rouba-lhe um beijo.

O sangue viola a roupa branquíssima da virgem,
Meu sangue,
Não a pedi que fosse!
Porque a pomba manchada não voa
Quer me ver nos últimos momentos
Meu agonizar,
A chegada da minha morte.
Como chora
Vem me abraçar, posso ver seus seios,
 Belos seios ensanguentados!

Não vê que a ferida não estanca;
Queria tê-la,
Mas ao olhá-la nos olhos eles me dizem
Que sempre será minha.
Não tocaria agora,
Queria que fosse embora!

As palavras me cessam
E já não sei dizer adeus;
Em meio à batalhas
Chora por mim uma flor,
A mesma beija minha mão,
Quero vê-la
Mais é só escuridão.
(...)
Se pudesse reviver,
Diria adeus aos braços frios
Que me levam ao descanso eterno
E me lançaria aos braços trêmulos da flor do deserto,
Eu a teria por toda a eternidade.
(...)
Já não sou completo para pertencê-la
E estou distante da sua luz.
(...)
Virgem! Não sonhais mais comigo,
Não queiras sentir a febre novamente
E não se ajunte a nós.
Daqui percebo que não há leito mais quente que o seu,
Quisera eu tê-lo conhecido;
Esquentá-lo.
(...)
Melodia entre os véus...
Vertigem! Não domem os olhos daquela que amo,
Que ela não seda a loucura.
Viva pomba adorável
Como se eu nunca tivesse existido,
Já me desfiz e não existo,
Jogue as lembranças ao mar.




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