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...Passo e bailo no nada, no nada floresço....

domingo, 31 de março de 2019

Diálogos de Cabeceira (Vanessa Ferreira)


Tenho tido diálogos de cabeceira
Livros que me embaraço recentemente...
A força de Rute Costa;
A transcendência de Adriano Sales;
A perfeição métrica de Admmauro Gomes;
O regionalismo de Avani Azevedo;
O coração pulsante de Vilmar Carvalho;
A beleza de Sylvia Beltão;
A sutileza de Socorro Duram;
A fé de Ednilza paixão;
O conhecimento de Rejane Correia;
A leveza de Anna Costa;
A maturidade de Cícero Felipe;
A objetividade de Ricardo Guerra;
O absolutismo de Vital Correia;
A contemporaneidade e engajamento de Virginia Carvalho;
A didática de Linaldo Santos;
A simplicidade de João Constantino;
O encantamento de Amauri Soares.

Todos vivos
Em processos de criação constantes e diferentes
É o belo atual.
Concluo em minha doçura que
O amor às letras nunca morre
Revive atemporalmente.




Esvanecimentos (Vanessa Ferreira)


Hoje estou um caso sério a escrever
Não me deixo em paz
Não me nego nenhuma palavra.
Sou anomalia poesia
Deixa estar
Vou me dar
Juntando o que é dizível vou
Tentando me fazer eterna estou.




Ali (Vanessa Ferreira)



Tem paz
Refrigério
Néctar poético
Gozo
Alegria.

Dentro do mais profundo
Das águas mais humanas
Do olhar mais doce
Do sorriso no canto dos olhos.

Ali em nós.




Esconderijo (Vanessa Ferreira)



Estas numa ideia inconsciente
Esperando eu tocar a música
Para valsar no vento.

Nada tira tua beleza
Árvores já estão balançando soltando suas flores
Rios correm nessa fantasia
Numa imensidão guardo você
Imaginação vaga por entre as montanhas
A alegria é nosso elemento sagrado.

Amado, derramado aos números 
Caminhando pelas pedras
Orientava-se pela bússola dos meus mapas internos.

Ria-se com meus devaneios
Lia com veemência meu versos
Saiu do limbo para morar comigo em Nárnia.





Espaço (Vanessa Ferreira)

Esse é meu espaço sem paredes
Sem caixinhas
Eu escuto minhas músicas
Mosto meu desejo
Espreguiço-me numa pauta musical
Na vogal
Espelho  meu.

Posso saltar
Desfazer-me
Despir-me
Sentir-me em casa
Criar meus próprios passos de dança.



Espera (Vanessa Ferreira)


Enquanto espero um poema chegar
Faço tudo que tenho para fazer
Relatórios, reuniões, planilhas
Converso com amigas
Sou mulher, amiga, amante, cozinheira...

Enquanto espero um poema chegar
Sou mil e uma coisas
Penso em coletividade e em solidão.

E quando ele chega
Ele precisa nascer
O parto é doloroso e agradável
Ele nasce e ganha vida própria
Fico em paz mais uma vez
Até a inquietude de gerar me arremate de novo.

A gestação se faz um dia, dois, uma semana, anos...
Cada um é diferente
Tem seu próprio rosto, cor, sabor
Cada um tem um pedaço de mim.
Não uso rimas...
...só quando me convém.

Agora retoco o batom
E espero um poema chegar



Órbita Oscilante (Vanessa Ferreira)


Passou das oito e não durmo mais
Meu ser se acostumou a querer ver e desfrutar das manhãs
Seja em tarefas domésticas ou no trabalho
Ou intelectual e filósofa às vezes
Visto-me das roupas de fortaleza.

Vou da doméstica a intelectual em um segundo
Da perfeccionista até aquela que esquece as chaves ou celular
Desempenho bem cada papel.

De fato tomo tantas decisões num mesmo instante
Tal qual um cirurgião no seu ofício
Devo definir listas, prioridades e a estética diária
O humor do dia sempre influencia nessas tarefas.

Tenho encantos bobos que vão desde um suplar
Até soluções para humanidade
Destoou-me a cada dia do mês
Cada fase  hormonal sou uma mulher diferente
Só presa na terra pela gravidade.





Ócio Criativo (Vanessa Ferreira

Como preciso desse silêncio
Da casa limpa e perfumada
Do café na mesa
Da janela aberta para ver com detalhes o nascer do sol.

Hora num ônibus
Ao mirar as imagens passadas vivas por entre as janelas
A força do vento nos meus cabelos
Que me embelezam mais que qualquer batom.

Momentos em meu leito que desperto
Inda em vestes de sonhos epifanias me surgem
Inda desacordada floreio em fantasias, e escrevo.

Meu diálogo mental é constante
Palavras são minhas acompanhantes
Meus dedos e mente transforma
O que aprendi sobre o sistema de escrita de minha língua
No mais profundo pedido inconsciente do que quero dizer.

Signos, significantes, coesão e coerência
Meus multiletramentos,
Olhares multissemióticos
E  jeito multimoldal
Vão sendo tecidos nesse processo complexo e belo.

Através desses sons e morfemas me mostro
Perpassando todos eles você me conhece.

Desjejum (Vanessa Ferreira)


O café é meu despertador
Seu perfume e gosto forte
Deixa-me em alerta para as tarefas do dia
Acorda-me do mundo dos sonhos
Me faz pisar no chão.


sábado, 30 de março de 2019

Poema indigente (Vanessa Ferreira)



Se a vida é avassaladora
A morte é mais ainda.
A velocidade dos planetas
Variável um a um
A nuvem de cometas
Assemelha-se aos pensamentos.

Meus anéis de Saturno no quadril
Céus tão belos
Hora divinos, hora terrenos.
A gravidade e o tempo ecoam
Se desfazem, enrolam-se
Forma novos infinitos
Sem títulos.




quinta-feira, 28 de março de 2019

Latejante (Vanessa Ferreira)



E tão estranho se ver adulto
É tão estanho assim
Andar por lugares que se foi  quando mais jovem
Menos juízo
Nem mais ou menos feliz.
Cantando rock da modinha
Da época do meu pai,
Andando na ponta da calçada
E o violão do grupo a tocar.

Querendo se encaixar
Querendo conquistar paixonites
Querendo se amar no espelho,
Sofrendo por paixões que nunca saíram dos sonhos,
Se envolvendo
Desiludindo
Se refazendo
Possibilidades mil
E acordando outra vez
Sempre em movimento
Na velocidade da luz.

E tão jovem tão jovem sou eu
E mais adolescente outra vez
25 não é igual aos 18, 19 e 20.
E amanhece a aliança na minha mão.

Cada fase se faz sua canção
Cada ano tem sua estação que marca.
Como tudo que nasce, cresce e morre.


Topo (Vanessa Ferreira)



Quando aproxima-se de meu rosto
Fluem  choques no meu corpo
Sinto-o dormente
Pronto para ceder a um suspiro
Eu prendo e escondo a mim o som.

Imagens psicodélicas e cores surgem em minhas pálpebras ao fechar os olhos
Meus braços e pernas agem sem mim
Estou fluindo
Derretendo
Desfazendo-me.

A paz tal como o pico do cume
Uma árvore contorcida cheia de flores
Me contorço
Adapto-me a seus movimentos
Entro numa dança mental
Entro em colapso
Saio do meu corpo
Não há explicação para essa quase morte.

Minha alma dança acima dos nossos corpos
Ela valsa
Cheia de tranças
Até que vislumbro a Via Láctea em toda sua glória.

Tenho medo
Vou da depressão a mania e a hipomania
Meu ser não suporta a grande visão
E tudo silencia
E finda-se o frenesi.






Diário (Vanessa Ferreira)



Sinto-me imersa numa imensidão oscilante
Confortável
Desconfortável
Hora feliz
Hora triste
Entretanto, cobrando-me muito
Porém, muito menos que antes
Muito mais normal agora.

Na vida nunca se está satisfeito
Sempre há coisas novas para se ver
Sentimentos e desejos novos
Mesmo sendo os mesmos
Não somos iguais ao início.

Superando um ano de pausa
E fazendo enfrentamentos diários
Aos pouco voltando
A passos de formiga.

Arremate (Vanessa Ferreira)


Sr. Darcy você esquentou minha juventude
Jane Austen me presenteou com sua companhia
Ela me fez amar um sisudo
E tentar buscar em sua cara fechada a sensualidade
De desejar um arrogante
Na esperança que sejas bom
E no fim tua timidez e rispidez esconde doçura.

Ah Sr. Darcy depois dos meus 20 anos vejo o quanto és inseguro
Não conseguia suportar meus tsunamis de emoção
E onde está teu sorriso?
Pois para mim o humor é afrodisíaco.
Perdi meu tempo amando alguém sem expressão
Apenas pelo mistério
Agora que me desdenha posso dizer-te firmemente que não fazes meu tipo.



Pulsação (Vanessa Ferreira)



Já houveram épocas que me despedi,
Despedia-me de tudo a cada momento,
Vivendo o máximo que podia
Apenas me despia.

Era afoita no viver
No querer
No se despedir.

Uma real necessidade pelo novo sempre
Se testando
Indo ao limite.

Achei que vivia o máximo
Mas prendia-me a tal ansiedade.

Eu via os dias voarem pela minha janela
E tinha medo de não ter,
Não ser,
Não fazer o suficiente.

Ou era amor ou era tragédia,
Não era suave no viver
De pressão em pressão fui vivendo
Em atropelo me desfiz
E agora meus pedaços refazendo.



quarta-feira, 27 de março de 2019

Oscilante (Vanessa Ferreira)




Tremores  e Temores
Guerra e paz
Vamos ao extremo
E ociosa estou
Quero entrelaçar-me  em mais um diálogo.

Tenho tanta energia
Tantos sonhos
Não consigo ficar quieta
Minha mente é barulhenta
Não me subestime pelo meu silêncio
Estou no décimo romance épico na minha mente.

Quando desencanto vou buscando um novo encanto
Se não existe eu invento
De lábios fechados e dedos falantes.


Limites (Vanessa Ferreira)



Costumava andar a contar estrelas
Temia as borboletas que vagavam
Fazia músicas com o cantar dos grilos
Voava num beijo doce
Me acendia no desejo.

Costurava remendos de vestes e relações
De machucão a esbarrão da vida fui acordando
Até endurecendo aos poucos.

Sim, eu mesma que chorava com filmes de amor
Idealizei e na dor me vi só,
Me perdi de fato dei a ti de novo as mãos
Agora encaliçadas e marcadas,
Novas mãos.

O corpo diferente de antes
Cabelos, olhos, dedos e coxas,
Agora tudo salta do espelho
Me vejo bela e desejosa
Desenho em mim o caminho do apogeu do ser
Tanto sozinha como acompanhada.

Ao me embelezar nasce a necessidade
De cuidar das unhas, cabelos, rosto e coração.

Antes do fim éramos um
Simbiose
No fim vi-me a mim como realmente estava,
Vi todos os remendos e palavras não ditas
Vi a cor por dentro
E quis mudar o astral.

E no novo começo dos nossos muitos términos
Vejo você e a mim como seres separados
Que se unem
Se fundem, mas se soltam.

Percebi que depende de mim a auto estima
Entendi que o parceiro está ao lado
Mas não muda quem sou lá dentro
Que não devo afogar que sou
Por seus caprichos.

Apaixonei-me por blusas de herói
A calça cumprida não assusta mais
O meu rosa é delicado, mas firme
Nas mãos, pés e boca.

Continuo a terapia de me ver, me cuidar
Me sentir das mais distintas formas
Tendo você como companheiro até onde der,
Ate quando quisermos.

Tens meu coração como companhia
Mas não permissivo a ponto de denegri-lo
Ou me entorpecer
E machucar-me outra vez
Pois estou com minhas mãos nele
Seguradas
Para que não abuses do teu espaço
Outra vez invadindo o meu.











segunda-feira, 25 de março de 2019

Falta (Vanessa Ferreira)


Difícil é fechar uma porta
Quando a mesma está sem trancas.
Esquadrinhar corações
Se sentir normal
Em meio as manias
Neuras
Transtornos
Viver é cheio de momentos
Em que o corpo se torna desconfortável a quem veste.
Que caiam as máscaras
Quero ouvir tua voz.


Poema dos olhos (Vanessa Ferreira)


Apenas um dia de silêncio
Sem palavras
Só suspiros e pensamentos.
Só ações em meio a calmaria
Só a espera de um novo instante.
Descanso em meio a meus desequilíbrios
Silencio minha voz 
Tento engolir cada sílaba
Cada som
Me aquietar
Me fechar novamente
Só pensar
Apenas um dia de silêncio.

sábado, 23 de março de 2019

Não (Vanessa Ferreira)




És altamente performático em suas palavras
Como um Dom Juan disposto a tudo
Viestes cassar
Nego-me ser tua presa
Teu alvo fácil.
A ti sou monossilábica
E te faço engolir uma a uma suas metáforas.





Ocupação (Vanessa Ferreira)



Sossego-me
Em brando e temperado vento
A fazer poemas
Mas o que são poemas?
Coisas criadas pelos homens?
Homens de fato frágeis,
Errantes homens?
Ora, de fato faço parte da categoria dos mortais
E por isso devo escrever poemas.

Talvez pelo mesmo motivo enxerguei a tal poesia das coisas
E da vida maior privilégio que se tem
E enxergar o belo
Sinto inspiração para escrever
E as palavras traduzem o abstrato
Dão corpo as aspirações
Esbanjando o mistério da perfeição.




Fim (Vanessa Ferreira)



Não chegou a ver o auge do amor
Depois que acabou...
E o que pode entender?
Se até quando parecia fria
Já havia cedido a suas palavras...

Então, depois do fim
E só depois
Contemplou a minha dor.

Dê-me o direito de viver em paz
Só são lembranças
Que ainda me inspiram
No emaranhado dos meus versos
Coisas não relacionadas a ti.

Pois a ti agora desconheço
Mudou-se de estação
Para águas intensas
Tão longes de mim
E buscas outras naturezas desconhecidas.











Últimas homenagens ao amor perdido (Vanessa Ferreira)



Todo mundo a sabe o final
Da história que se repete
Quem nunca teve um amor
Ou algo igual?
Quem nunca sentiu a dor?
E não exagerou em seus momentos
Sentimentos exordiais
Dos primeiros romances.

Quem nunca teve um coração primitivo
De pureza e doçura?
Quem nunca esperou ser real
A fantasia, a candura,
Doces sonhos!
Afáveis beijos!
O doce amargo do fim
Daquilo que foi um erro
Que deixou de ser
Que foram as primeiras aspirações.
Rasgado você foi
Como fui também.





Fascinação (Vanessa Ferreira)



Causas borboletas no estômago,
Não consigo terminar o diálogo
gosto de sua atenção
gosto de ser ouvida.
Entre o sensual e o erótico
Fazemos o caminho do autoconhecimento.

É atrativo
Temo lançar-te em teus braços
Pois minha mente ama o lógico
O sublime
O belo
E notável a existência um entrelaçar
Um encantamento
Encontro de almas.

E quando escrevo sobre ti
Transbordo minha admiração
Faz-se o começo do desejo
Sob as mesmas palavras agora escrevo
Entre elas me escondo
Nelas me refugio
Sumindo assim de teus olhos tentadores.





O pedido ao cavalheiro perdido (Vanessa Ferreira)



Temo por já está prometido,
Quisera eu ser aquela a qual teria-o
de presente todos os dias da vida.
Quero beijar-te, mas não consigo...
Mesmo que eu não seja ela a tua
Mas queria viver momentos eternos contigo.
Não sabes como é difícil me convencer
que nunca seria sua,
que não cabe a nós escolher.
Temo ser castigada pelo que sinto,
Temo por senti-lo,
Temo por amar você.
Estou pronta para ser beijada
Já o mel escorre de meus lábios
e todo meu ser sedento suplica por seu beijo,
Beija-me agora daqui para a eternidade...
Lancelot

Detalhes (Vanessa Ferreira)



Ele me deu uma rosa
Feita de folhas de palmeira
Bem artesanal
Trouxe-me uma xícara de café e uma manta
Enquanto escrevia esquentou meus pés
Ou tocava um violão.

Apenas estava ali 
Enquanto minha arte nascia
E abriu a janela para me aproximar do por do sol.
Então, aquele momento tão íntimo,
Tão meu
Era nosso
Fizemos tudo lado a lado.


Indefinido (Vanessa Ferreira)


Não se julga a arte
Os versos
Existe algo além das linhas
As vezes regressamos a tempos antigos
Ou falamos de situações atuais
Tem momentos que queremos definir o que se sente
Dar nomes
Classificar
Mas é em vão.
Nem mesmo o poeta sabe sobre o que fala
Em muitos momentos são indefinidos.
Temos nossas epifanias
Vidas e vidas
Várias faces.
Por isso se não me conheces
Não é garantia me conhecer apenas pela minha arte.
Sou o resultado do que vi
Vivi
Senti
Li
Das pessoas
Coisas
Da matéria escura do universo nebuloso em mim.