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...Passo e bailo no nada, no nada floresço....

sábado, 3 de setembro de 2011

O ÉDEN PERDIDO (Vanessa Ferreira)



            Em um silêncio agudo, nado nu em lençóis freáticos, a cada movimento percebo-me ainda pequeno, a proporção que o líquido que varre-me esvai cada vez mais, sinto pouco espaço e leve compressão; ambiente de extrema proteção. É como posso definir seu ventre; ainda que quando sem forma pensava, só existia em ti, pois estava ligado a você.
                Não definas como és, já que a cada toque seu em minha casa, reviro-me, “Como estais lá fora, se estais aqui em mim e eu em ti?”. Sonho eterno nesse santuário sem portas ou trancas, pois se adquiro sabedoria de saber sobre o existir sintetizo que existo.
                   Do início, sou o início de todos como você, aqui no seu ventre é tão simples a vida. Minhas mãos ganham carnes e tendões me sinto mais humano. O que é humano? Algo me faz mudar de posição, me sinto ainda tão bem que não quero, nem imagino deixar-te, perderias um pedaço teu?
                   É inevitável que a gravidade me chama, que sou forçado a esvaí-me para sempre. O escudo será aberto agora; a luz fere meus olhos, minhas narinas abrem-se algo estranho que não vejo se enche dentro de mim e eu me torno mais humano que pensei. Longe do meu lugar tudo é seco, sem nosso ligamento, a terra vira o caos para quem veio do paraíso; e cada vez mais acredito na existência de um Édem perdido.

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