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...Passo e bailo no nada, no nada floresço....

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Instável (Vanessa Ferreira)

Um dia me fiz guerra
Te desprezei
Repeli todo e qualquer carinho
Eu quis estar só,
E fiquei.
Mas pela manhã já era outra
Seus olhos os mesmo acolhedores de sempre,
Inalterados.
Não pude apagar o borrão de outrora
Inda sim a melancolia existe
mesmo que não saia.
O que há de errado em mim?

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Divã (Vanessa Ferreira)


Pegue na minha mão
Vamos fazer esse caminho
Onde tiver pedras a gente pula
Se tiver rio a gente contorna.

Mal vejo a hora do meu expediente acabar pra te ver
Subirei as escadas
Percorrerei os caminhos
Dessa vez eu irei.

Já tivemos inúmeras sessões da vida
Questionei tudo até minha existência
A melancolia quase me engoliu
é sou complexa
Acho que serei assim a vida toda.

Irei consciente e inconscientemente lhe analisar
Vou achar suas pontas
Adentrar na minha e na sua escuridão a passeio
Sairei após o divã.

Um romance?
Um objeto de estudo?
Um bom sexo?
Talvez uma parte de mim perdida
Quem sabe és só uma fantasia minha.


segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Poema na sopa (Vanessa Ferreira)


Afeto
Empatia
Transferência
Vai me nutrir
Essa é tua poesia.

O peixe não me deixa esquecer o mar que vimos juntas
Durante nove meses me alimentasse de teu ser
Por dois anos depois de teu leite.
Sou fruto de teu sangue
Sou adulta e ainda me alimentas 
ás vezes do que não é comida
Mas hoje me fizeste um dengo.

Eu li teu poema
No cheirinho que invadiu a casa toda
Cada pedaço de repolho tem amor
O coentro boiando vai desenhando sorrisos
Maternal é o pão que molho.

As cenouras acomodadas em cubos
Abaixo da superfície do líquido repousam
O caldo encorpa tudo
E me sinto no ventre de novo
O carinho virou sopa de mainha e me visitou
Afeição, comida, calor, conforto de mãe
Essa é tua declaração de amor.


Hospedeiro (Vanessa Ferreira)

De maneira tranquila vem
Com a chave da porta ainda se anuncia
Valsa pela casa olhando meu teto
A cozinha colorida
Na sala nosso divã.
Ah! a vida nos dá tantos assuntos
No fim Nana Caymmi nos guia
Ainda sou perspicaz apesar de traços românticos.
Então, qual nossa próxima questão?


Visgo (Vanessa Ferreira)


Estou presa na bainha de sua calça
Atrelada no fiapo certeiro da camisa
No cós de sua box.

Sou eu quem dou voltas em suas costas na gota do suor
Desço pelos pés nas meias
Subo da nuca ao ouvido em sua costeleta.

Fico roçando em sua barba ainda nascendo
Entre os olhos no suporte do óculos
Cada partícula sua é particular minha.

Meu mundo começa e termina no seu como simbiose.

Chão (Vanessa Ferreira)


E o medo de ir a um inferno
nos leva a outro,
A sexualidade das filhas
ofende as mães,
A humanidade segue
As plantas e barrigas crescem
Como pensar então em eternidade?
O peso do "para sempre" entorta os ombros
Temos medo
Nunca estamos satisfeitos
É o chiclete de Clarice
que nos prende a gravidade.






sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Lendo inscritos antigos meus (Vanessa Ferreira)



Altamente trágica/ dramática na juventude
Tenho que lidar com textos que me sobraram de lá
Menina afoita banhada da “Sessão da tarde”
Tão rápida no falar e lenta no ouvir
Iludi-me numa escala de 0 a 100
Às vezes riu do que foi minha ingenuidade
Tem momentos que choro com saudade dela.

Por que tinha essa ânsia de um grande amor?
Por que querer marcar o mundo?
Tola menina não sabia o que é a vida.
Talvez mais feliz ou mais triste
Não sei dizer nada da versão atual de mim.



Mudança Repentina (Vanessa Ferreira)

A mão que me afaga hoje
Não diria eu que amanhã me afaste,
Os dedos quentes que esquentava a pele
agora são mais frios que os meus.
Um momento um encontro
Depois não sobra nem um sopro
Voz ou palavra
Nada a dizer,
Esqueci o sol e voltei ao frio que estava acostumada.
Penso que errei
Não suporto a dúvida
e o enfrento em mensagens de texto
Digo o que tenho a dizer
o que me afligia
solto dos dedos as perguntas
E espero no coração as respostas.
Acima de tudo sempre carrego junto a mim
o kit de primeiros socorros
Fui treinada a lidar com todos os nãos.




quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Choque (Vanessa Ferreira)


Meu corpo é tênue a temperatura
Sofre e é castigado
O que emana os sentimentos
O mar paralisa equalizando o ser
Do quente ao frio passo um minuto
De febre a hipotermia
Soando hálitos poéticos.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Poemas em conserva (vanessa Ferreira)

Desça-me latas e latas
Na conserva duram as palavras
São resistentes os sentimentos
Posso levar meus momentos numa tapoé.

Corto cada uma oração como a tomates
Colorido vinagrete de emoção.
Os vencidos jogo com pesar
Por que guardei por tanto tempo?

Agora mesmo com frutas e verduras frescas
Não consigo cozinhar toda vez que me vem inspiração
Por mais que lave as panelas
E mantenha a ficção pela arrumação dos temperos.

As facas seguem ordens de mãos
Os garfos estraçalham as minhas rimas
E com fome devoro mais um poema enlatado.



Em busca de Motivos (Vanessa Ferreira)

Nesse papel lanço o meu desespero
Quero riscá-lo
Transpassar a fibra que o compõe
No mundo subatômico violentar cada transpassar desse papel
Rasgar esse azul de tinta que pega minha voz
Eu nada falo que seja audível
Se quer me ver me leia.

Perco o fio da meada e me entendio
Meu vigor se vai com o porque peguei essa caneta
Preciso me desnudar e jogar a fúria nessa folha em branco
Apenas existo nessa maré de emoções humanas
Querendo uma reflexão mais profunda e obscura
Levando-se a exaustão
No fundo o que quero é alívio.

Alquimista (Vanessa Ferreira)

Queria ter palavras doces para te dar
Poemas menos sinceros talvez
Menos sessão de terapia
Análises de minhas mazelas humanas.

Veja como não consigo ser otimista meu bem
Se bobiar em resposta ao seu "eu te amo" te direi algo trágico
Não que seja a busca do drama
Mas eu tenho essa melancolia insistente.

Se quiseres um romântico posso tentar
Na verdade mesmo parece que tudo tem um raio triste
Tudo até mesmo o amor.


Receita (Vanessa Ferreira)

Deixe-me cozinhar você
Tantos temperos fortes me saíram hoje
Eu recordei coisas que devia ter apagado.
Cozinha não me olhe estranho
Panelas não se voltem contra mim
Pratos não ignorem minha atenção
Deixe-me cozinhar você.
Aqui é meu novo lar
Com essas proteínas e todo verde
Essa mesa bamba
Cada canto agora é meu
Deixe-me cozinhar você.






Ao poema que gerei (Vanessa Ferreira)


És uma fonte de amabilidade
A voz de consciência do meu consciente
A fonte das palavras que coloca para dormir todas as noites.
És de carne e osso
Feito da mais primitiva matéria
Ondas de luz atingem tua alma
Como cada palavra que digo fica tatuada na tua áurea.
És pulsante, impulsivo e ativo
não o domino
Tu és já pronto sem mim.
Sabes onde rasgar-me e costurar-me
Cirurgicamente se insere nas minhas canções
Ventila-me um novo ar
Bate-me como as claras em neve
Tu és leveza quando sou peso.


Poemas no Chá (Vanessa Ferreira)


Eu virei rascunhos
Tornei esboços que se materializaram
Caracterizada em plantas me perdi na doçura.

O aroma acalma-me como camomila
Busco poemas tal como hortelã fresca
Mas o amargo da vida me é necessário como o boldo.

Nos campos de capim cidreira eu ando
Os versos sonolentos me saem
Paralisando a ansiedade de escrever, falar, ser.

A tardinha com o chão amarelo do sol
Remexo todos os meus versos
A prosa me paquera na esquina antes do poema se achegar.

Banho-me com aromas no ar
Guardo os inscritos antigos para os novos visitar
E o insight me chega
Em mais um gole de chá.



Poemas no Café (Vanessa Ferreira)

A bebida que me acorda foi fonte de inspiração,
Virou um livro de prateleira,
Cheio de aroma nas folhas
Silencioso quando fechado.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Poemas no Vinho (Vanessa Ferreira)

Quase sempre penso no teu gosto
O seu sabor marca fases específicas
Me abrindo o portal do inconsciente
Jorrando de minha boca os versos que mordi.

Esmaguei, mastigando as paroxítonas
Rimas A/B - A/A - B/B se liquefazem
Da uva brota a fonte do meu silêncio.
Por que sintetizar tudo?
Para ser entendida?

Então desenho buracos negros,
Fusão de galáxias,
Explosões de raios gamas
Indo ao fundo das estrelas numa taça de vinho.