.

...Passo e bailo no nada, no nada floresço....

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Relação (Vanessa Ferreira)


De tudo quero explicação

Mas, na verdade nem tudo se explica

E a verdade nem sempre é respondida

E o que é falso ás vezes vira notícia

E a mentira quase sempre é desculpa

Pela falta de  solução

Para encher uma questão

E  suprir a alma inquieta

Por  soluções vans

E quase sempre se afasta da verdade

Do item original

E surgem outras perguntas

E aumenta a busca por soluções

E mais e mais insatisfeito ficam

O homem e a razão

Por não conhecer a totalidade das coisas

Vive sem suprir sua ambição.





Relatórios diários (Vanessa Ferreira)


Quando estava a caminhar

Passei por um andarilho

Vi o que refletia dos seus olhos

Sua solidão era tamanha

Comparava-se a uma criança

Abandonada na selva urbana

Sem que ninguém veja o bebê

Padecer invisível

Trajado de adulto.

Aquele homem sumia

E temi o que vi

Parecia ser sua alma.

Somos tão frágeis

Dependentes um dos outros

Como a visão que tive no olhar do andarilho.








Tonalidade de extremos (Vanessa Ferreira)




Meu amor me diz se seus olhos são azuis

Que encandeiam os meus,

Talvez o azul seja reflexo do céu

Ou fenômeno inexplicável

Como o arco-íris das tuas íris

Tanto faz.

É azul meu humor

Encaixando-se perfeitamente

Ao frio ao quente

A guerra e paz

É sensação

É o que desperta

O que dá no peito

Que tinge o oco da existência.

É o soul é o pop

É o jazz é o rock

Que me colore por inteiro

Até o eco dos devaneios

Floreios de tinteiros

Sorrisos coloridos.

Tudo, tudo, cada particular azul

Do tédio ao frenesi

Do frio ao calor

Diga-me se são azuis seus olhos

Ou meteoro que muda de cor.




Percepção (Vanessa Ferreira)


O que será que se passa na sua cabeça

Há essas horas antes de dormir?

Rotineiros pensamentos suponho.

Serás que pensas no amor?

Em alguém especial?

Realmente conseguimos substituir alguém?

Esquecer?

Ou apenas fingimos?

O que se passa na sua mente

Nas horas que lembra de mim?

Será que resta um pouco  do algo que existiu?

Nem que seja as sobras do que o nutriu?

Ou aquilo que fez me procurar?

Tal como a ânsia de escrever que tenho.

As dúvidas que um dia tivemos

Construímos para ter sempre respostas as buscas

Era desafiador

Os desejos que não conhecemos

A saciedade incompleta do existir

O discurso mudo.

Será que ainda estás aí?

Ou o que foi deixou de ser por completo

E a outra forma aderiu

Sendo agora um outro ser

De novas perspectivas

E não te restar mais nada

Do alguém que um dia me teve

E eu o tive como a linha do horizonte distante.




Pintura celeste (Vanessa Ferreira)





Como a lua  apresenta-se pela metade

Apenas em algumas noites

Percebo eu que a existência

É certa coisa inquestionável

É notória

Apenas isso

Simples assim.

A distância torna tão pequena o grande astro

E de fato continua a mesma lua

A mesma que apresenta-se todas as noites.

Nessa noite está menor

Poucas estrelas a acompanham

Rodeada de quase nenhuma nuvem

Não deixa de ser lua

Como minha existência  continua imprevisível

Frágil e finita

Meu “eu” lírico encontra-se escrevendo

A essa lua incompleta e completa

Tentando me tornar eterna

E a ti do outro lado do papel

Até que me faltem as palavras.









domingo, 24 de junho de 2012

Composição (Vanessa Ferreira)


Em folhas avulsas

Uma canção misturando samba triste

Notas de MPB que compus

E que ela fale do teto

Que olhamos em momentos de insônia

Fale na mistura do suave repouso

Das teclas e da tela iluminada

Dos incômodos do poeta

De suas manias

Do cheiro da folha em branco

Das mordidas na tampa da caneta

Dos desgrenhados cabelos

Do perfume de sândalo

Cores...

Pinturas...

Cosmo...

Do mais profundo sentimento

Aquele só seu

Que esconde de mim

No reflexo espelhado.









A aquilo que é verdadeiro (Vanessa Ferreira)


Estás em mim

Impregnado

Enraizado

Não compreendo

Ainda decifro as palavras

Mas, não passa

Não se altera

É imutável.

Posso esquecer num canto

No lado que proponho ignorar

Mas estás em tudo em essência

Nas minhas entranhas

Num eco prazeroso e triste

No meu bucolismo

E talvez numa energia

Ou suposta alegria

Num bege que eternizou o vermelho

Em belos dias

Na mancha de vinho tinto

Quando não sai do tecido branco

Encruado permanece

                 Permanece...




domingo, 17 de junho de 2012

Esquadros (Vanessa Ferreira)



                                                                
Como Aquiles , que os olhos descerrava,

E os movia ao redor , maravilhado,

Sem atinar decerto onde se achava.

(Dante Alichieri,  A Divina Comédia)





Ando pelas ruas pensativo
Querendo ver teu rosto em meio a rotina

Mesmo que não falemos

Que finjamos não nos ver

Queria ver teu rosto outra vez.

Para saber se o que me move

Ainda é o súbito abrasador

O inexplicável explicado

O desejo humano voraz

Do apaixonante desapaixono.



A sua estação não é mais inverno

É verão,

Enquanto na minha a neve cai.




E que o cículo se feche

E que o vento faça redemoinhos

E que veja alguma semelhança tua

E os traços sumam dos esquadros do tempo

Riscos de memória

Passatempo desconexo

Pernoitando ainda de dia

Teu rosto numa multidão.




A sua estação não é mais inverno

É verão,

Enquanto na minha a neve cai.