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...Passo e bailo no nada, no nada floresço....

sábado, 22 de janeiro de 2022

Energia (Vanessa Ferreira)


Achei por muito tempo que fosses tirar a áurea triste

Confundi com introspectividade

Com recolhimento e apreciação do finito

E conforto pelo fim, não aceitação, não mais.

 

Também achei que quando

Num momento de sensibilidade

De olhos abertos ou fechados

Sem prazer

Percebia as ondas do meu ser equalizado nesse corpo carne

Pensei que era loucura.

 

Achei que me tirarias desses olhos pra dentro

Mas tu pegas na minha mão

Ou viras voz apenas

Em meditação teleguiada

Sente comigo

O remexer de mim em mim.

 

Como a movimentação oceânica com a lua

Eu sinto

Sinto tudo

E sinto você

Até sua partida.



 

A poesia que bebo (Vanessa Ferreira)


Fui café numa manhã quando precisava acordar pra vida

Foi aí que amargo eu precisei despertar

Como fui suave também

Desci por entre sua garganta te revigorando.


Fui chá no desespero

Na insônia

Na ansiedade do fim de um dia

Em meio ao medo e tédio

Fui tua calmaria.

 

Fugisse para adolescência

Tu querias ver o belo de novo

Os olhos regrediram

Mas meu gosto maturou com o tempo

Da terra que me arrancasse

Bebesse a terra

Bebesse a calma

Bebesse-me.

 

E agora adulta me acha como a uma taça de vinho

Eu sou a mesma bebida transcendental

A poesia

Esquento-lhe

Alegro, dou prazer.

 

Tu não tem medo mais de se ver infantil

Não fica desconfortável para ser aceita

Veste-se de mar

De si

De ciência

De intuição feminina.

 

Teu desejo escorre e não limpas mais

Teus dedos produzem palavras sem censuras

Tu se aceita

Tu é mulher

Tu é energia

Luz

E eu te banho essa noite.






 

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

O mesmo homem (Vanessa Ferreira)



Eu vejo em seus olhos o mesmo homem

Que me beijou na ponte

Que me despiu sem medo

Virou verso

Mergulhou em mim.

 

Eu o sinto abrindo as portas 

Escalo as minhas entranhas

Os pensamentos

Escrevo poemas, mentalizo

E te tenho toda vez

Você sempre está

E quando vai, sempre volta.

 

Eu vejo em seus olhos o mesmo homem

E se reinventa

Adapta-se

Me deixa levitar

Levita comigo...

 

Sinto-me mais linda, mais eu.

Emociono-me

Estou apaixonada por sua beleza

Por sua leveza

Faço parte de tu e tu faz parte de mim.



Sou (Vanessa Ferreira)



Sou mil e uma mulheres

Ancestrais, novas, velhas, inocentes, faceiras

Flores, cravos e cactos

Pássaro, cobra, lagarta

Borboleta, cor, tudo, nada, presença, ausência

cheia de perguntas, prazeres e tormentos.


Sou mil e uma mulheres

Gosto, vontade, teimosia, desejo

Tumulto, calmaria, tempestade, ódio, amor

Poder, medo, coragem, multidão, solidão

Uma bala acertando o alvo

Fogos desconexos sem direção

Ressaca sem medida de pensamentos.


Vivo eu acompanhada de mim e de tantas

Sobrevivo a danação e regozijo sem fim de minha existência.